
Peter Beard: a África dele e a lente selvagem
Entre Nova Iorque e África, foi assim que viveu Peter Beard. Obcecado e encantado pela natureza, passava grandes temporadas no Quénia, local onde vincou a sua imagem como um dos mais singulares e aventureiros fotógrafos da vida selvagem. Foi encontrado morto no domingo na floresta de Montauk, a cerca de 200 km do centro de Nova Iorque.

Foi aos 17 anos que Peter Beard viajou pela primeira vez para África. Nesse verão, dedicou‑se a fotografar a fauna da região. 50 dos seus 82 anos de vida foram dedicados a documentar o continente africano. A natureza, que tanto o apaixonava, acentuava o seu gosto pela transgressão dos limites.
Há já várias décadas começou a denunciar danos ambientais causados pelo homem, como o aumento descontrolado do povoamento de áreas florestais. Assistiu também à morte de dezenas de milhares de animais devido à destruição do seu habitat.
Peter Beard trocou o luxo por uma vida mais ou menos convencional. A culpa do gosto pela fotografia é da sua avó que, na década de 1940, lhe ofereceu a primeira máquina.
“O Peter era um homem extraordinário que teve uma vida extraordinária. Era um explorador intrépido, infalivelmente generoso, carismático e exigente”, disse a família em comunicado.
“O Peter redefiniu o que significa ser aberto: aberto a novas ideias, novos encontros, novas pessoas, novas maneiras de viver e de ser. Sempre insaciavelmente curioso, seguiu as suas paixões sem limitações e apreendeu a realidade através de uma lente única”, pode ler-se no mesmo comunicado.
As suas fotografias ficaram famosas por, após impressas, serem retocadas com tinta e sangue de animal ou do próprio fotógrafo. Em The End of the Game, a sua obra mais importante, compilou fotografias e textos em que mostrava uma visão romanceada de África, mas também o pior da vida selvagem, nomeadamente com o relato das atrocidades contra os elefantes.
A convivência com o perigo foi uma constante ao longo da sua vida. Em 1996, perto da fronteira entre o Quénia e a Tanzânia, um elefante partiu-lhe a perna, várias costelas e a bacia, deixando-o com sérios danos nos nervos óticos. Colocou-se a hipótese de não voltar a andar, mas tal não se verificou.
“A última coisa que resta na natureza é a beleza das mulheres, por isso sinto-me muito feliz por poder fotografá-la”, revelou numa entrevista ao The Observer.
Se por um lado a natureza marca o trabalho de Peter Beard, por outro é limitativo remetê-lo exclusivamente a isso. Para além da vida selvagem, fez fotografia de moda para revistas como a Elle e a Vogue.
A última vez que foi visto com vida foi a 31 de março. Desaparecido há 19 dias, foi encontrado, já sem vida, por um caçador. Peter Beard sofria de demência.
“Morreu onde viveu ‑ na natureza”.
Foto de destaque: The Global Domain News