
Morreu aos 77 anos o escritor, político e ativista russo Eduard Limonov
Limonov ficou conhecido pelo seu ativismo político e por sua obra literária onde narrava o exílio nos Estados Unidos. Carrère descreve-o como dono de uma vida “apaixonante” com um “estilo simples, concreto, sem rodriguinhos literários, com a energia de um Jack London russo”.

Faleceu, esta terça-feira, dia 17 de março, Eduard Limonov, um ícone da resistência política contra o regime de Vladimir Putin. A informação foi divulgada pelos veículos oficiais do partido Outra Rússia e pela agência noticiosa TASS. O escritor, ativista e dissidente político tinha 77 anos e estava já hospitalizado.
Eduard Limonov começou a sua carreira como escritor pela poesia, dedicando-se, mais tarde, aos romances. O seu primeiro livro, “Sou eu, Eddie”, publicado em 1979, tornou-se a sua obra mais conhecida. Segundo o jornal Público, esta passa-se nos Estados Unidos e acompanha “a viagem de um poeta russo ao bas-fonds de Nova Iorque, com todas as aventuras possíveis, incluindo a descoberta da homossexualidade”.
Enquanto político, o escritor foi o membro fundador do Partido Nacional Bolchevique, organização nunca oficialmente autorizada que esteve ativa entre 1993 e 2007. Mais tarde, lançou o Outra Rússia, um movimento que viria a federar a oposição a Vladimir Putin.
“Esses jovens são sãos e sabem o que estão a fazer. São fortes e governados pela paixão. A prisão não é nada em comparação com a liberdade do país”, diz Limonov numa entrevista dada em 2010 ao The Guardian, ressaltando assim o seu caráter interventivo na política.

A sua forma de vida captou a atenção do escritor francês Emmanuel Carrère que retratou a sua personalidade e história num romance biográfico denominado “Limonov”. “Limonov não é uma personagem de ficção. Ele existe. Eu conheço-o. Foi um marginal na Ucrânia; ídolo do underground soviético na era Brejnev; sem-abrigo e depois criado de quarto de um milionário em Manhattan; escritor de vanguarda em Paris; soldado perdido na guerra dos Balcãs; e hoje, no imenso bordel do pós-comunismo na Rússia, velho chefe carismático de um partido de jovens em fúria. Vê-se a si próprio como um herói, mas podemos considerá-lo um bandido: por mim, deixo o julgamento em suspenso. É uma vida perigosa, ambígua: um verdadeiro romance de aventuras. É também, creio, uma vida que conta qualquer coisa”, descreve Carrère na contracapa do livro.
Eduard Limonov deixou para trás um vasto conjunto de obras como “Anatomia de um herói”, “O diário de um perdedor”, “O livro da água” ou “Sou eu, Eddie”, que, segundo o Público, são as “memórias ficcionadas de um imigrante em Nova Iorque: duro, sexual e obsceno como ele”.
Foto de destaque retirada do Jornal Público