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‘Grândola Vila Morena’: a história por detrás da canção

A música composta por José ‘’Zeca’’ Afonso, foi a escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), como segunda senha de sinalização a 25 de abril de 1974. Ficou para sempre imortalizada como um dos símbolos da ‘’Revolução dos Cravos’’, mas a sua origem é ainda desconhecida por muitos. 

Nasceu a 17 de maio de 1964, quando José Afonso regressava da vila alentejana de Grândola, onde foi convidado a participar nos festejos do 52º aniversário da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG). Com o ambiente fraterno e solidário que lá presenciou, o músico começou o que seria a sua primeira versão da famosa música. 

Em França, em 1969, José Afonso conheceu José Mário Branco, e estabeleceu uma relação de cumplicidade imediata. Neste encontro, Afonso foi convidado a gravar diversos temas, entre os quais o seu ‘Grândola Vila Morena’,no ano de 1971, num estúdio no Château d’Hérouville, nos arredores de Paris. O mesmo veio a receber, em anos posteriores, artistas como Elton John, Pink Floyd e David Bowie. 

A gravação teve lugar numa madrugada de Outubro, no pátio exterior do estúdio que se encontrava coberto de gravilha, para que José Afonso, José Mário Branco, o guitarrista Carlos Correia e do cantor português Francisco Fanhais, pudessem registar os icónicos passos que marcam o início da canção. ‘’Aqueles passos que se ouvem no início, foram captados em estúdio numa espécie de encenação do tipo de ambiente criado pelos grupos corais alentejanos, foi esse o ambiente que o Zé Mário quis reproduzir’’, explica Francisco Fanhais ao jornal Expresso.  

Após a gravação dos passos, o som foi enviado para o estúdio nesse mesmo dia e foi sobre ele que ‘Zeca’ começou a cantar. 

A primeira apresentação ao vivo do tema foi em Santiago de Compostela, na Galiza, a 10 de maio de 1972, num evento organizado por estudantes que lutavam contra o franquismo. A apresentação nesse espetáculo garantiu a ‘Grândola’ a índole de hino de resistência.  

Em Portugal, José Afonso foi vítima da censura, proibido de interpretar vários títulos. ‘Grândola’, por sua vez, não foi vista como um tema subversivo, e foi interpretada ao encerrar o Primeiro Encontro da Canção Portuguesa, a 29 de março de 1974, menos de um mês antes da Revolução dos Cravos. 

A nova vida da canção começou a 25 de abril de 1974, vinte minutos passados da meia noite. O MFA escolheu a canção para segunda senha da revolução, transmitindo-a a partir do estúdio da Rádio Renascença para confirmar que as operações estavam em marcha. 

‘’Quando se deu o 25 de Abril, eu estava em França e nessa manhã liguei a um amigo que me disse o que se estava a passar, fiquei na dúvida, tal como muita gente, se era um golpe da direita ou de democratas que queriam alterar o regime. As dúvidas desfizeram-se quando percebi o papel da “Grândola”: nenhum fascista teria escolhido um tema assim para uma revolução. Senti muito orgulho por ter participado na gravação original dessa canção’’, recorda Fanhais ao Expresso. 

José Afonso faleceu em 1987, deixando no seu legado, a música forte e imortal. Interpretada anos mais tarde por músicos como Amália Rodrigues, UHF e até mesmo Charlie Haden, ‘Grândola Vila Morena’ vai celebrar este ano o seu 49º aniversário. 

Fotografia de destaque retirada de: jornal Observador

Cátia Gonçalves
Estudante em Jornalismo e Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.