
Bolsonaro admite ter citado “PF” em reunião e é acusado de interferência
No início da semana, o presidente negou ter mencionado a Polícia Federal (PF) durante reunião. Nesta sexta-feira, Bolsonaro se corrigiu e admitiu ter mencionado a corporação, mas disse que “interferência” visou proteger a família.
O presidente Jair Bolsonaro admitiu, nesta sexta-feira, ter dito a palavra “PF” (Polícia Federal) durante reunião ministerial do dia 22 de abril. Ele se defendeu dizendo que o posicionamento tomado foi puramente em razão da segurança física de sua família, e não para interferir em assuntos de inteligência e investigação dentro da corporação, como foi acusado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.
No início desta semana, Bolsonaro declarou que não havia dito nenhuma vez, durante a reunião do dia 22/4, a palavra “Polícia Federal”. “Esse vazador está prestando desserviço. Não existe no vídeo a palavra ‘Polícia Federal’ nem ‘superintendência'”, afirmou o presidente na ocasião.
No entanto, a investigação sobre o caso mostrou que, em vídeo gravado da reunião, o presidente cita sim a PF. A reunião ministerial em questão é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar acusações feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro durante seu discurso de demissão, no dia 24 de abril. Em sua fala, Moro acusa o presidente Jair Bolsonaro de interferência na Polícia Federal por interesses políticos e pessoais.

Cabe ainda ao ministro Celso de Mello, relator deste caso, decidir se torna público, na íntegra, o teor do vídeo da reunião. Ontem, quinta-feira (14), a Advocacia Geral da União (AGU) divulgou a transcrição de um pequeno trecho da reunião, em que Jair Bolsonaro cita a palavra “PF”. Nesta sexta-feira, o presidente admitiu que o texto divulgado pela AGU correspondia à realidade.
Na saída do Palácio da Alvorada – residência oficial designada a quem assume a presidência do país -, jornalistas questionaram Bolsonaro sobre a palavra “Polícia Federal” ter aparecido nas transcrições da AGU, contrariando a declaração do presidente dada no início desta semana. Em resposta, ele disse: “Está a palavra PF. Duas letras: PF”.
Jornalistas continuaram questionando o presidente, que declarou que deseja que o vídeo seja divulgado, para que a interpretação “correta” de suas falas na reunião seja feita. “Eu espero que a fita se torne pública, para que a análise correta venha a ser feita. A interferência não é nesse contexto da inteligência, não. É na segurança familiar. É bem claro”, afirmou Bolsonaro.

No entanto, o presidente declarou que não gostaria que a gravação na íntegra se tornasse pública. Jair Bolsonaro defendeu que não fossem mostradas as partes em que ele se refere a “questões que têm a ver com política externa e segurança nacional”.
Bolsonaro encerrou a entrevista quando jornalistas tentaram questioná-lo sobre a possível recusa do ministro Augusto Heleno (GSI – Gabinete de Segurança Institucional) em realizar mudanças na segurança do presidente. Vale lembrar que cabe à GSI a segurança de Bolsonaro e de seus familiares.
Na transcrição do vídeo da reunião, entregue pela AGU, o presidente aparece afirmando que tentou trocar “gente da segurança nossa no Rio”, mas não teve sucesso. A transcrição também mostra Bolsonaro afirmando que, se não conseguisse realizar a mudança, demitiria o ministro (não ficou claro, na transcrição, se o presidente se referia ao então ministro da Justiça Sérgio Moro ou a Augusto Heleno, ministro do GSI):
“Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe. Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira (…)”, diz trecho da transcrição.
Trecho da reunião divulgado pela AGU
Apesar de Jair Bolsonaro dizer que citou “PF” apenas com a intenção de proteger sua família, a transcrição feita pela AGU e entregue ao STF mostra o presidente reclamando da falta de informação da Polícia Federal e declarando que iria “interferir”. Porém, o trecho divulgado pela AGU não deixa claro como Bolsonaro faria isso.
(Transcrição): “E me desculpe o serviço de informação nosso, todos, é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”.
Por que este vídeo da reunião é importante?
A reunião do dia 22/4, que está gravada no vídeo em questão, foi citada em depoimento pelo ex-ministro Sérgio Moro no contexto do inquérito que investiga suposta interferência de Jair Bolsonaro dentro da Polícia Federal. Na reunião, o presidente teria exigido a troca do superintendente da PF no Rio de Janeiro, na intenção de impossibilitar investigações que prejudicariam seus familiares.
O vídeo na íntegra está sob sigilo desde que chegou ao Supremo Tribunal Federal, no dia 8 de maio. A gravação já foi exibida em uma única sessão , reservada a investigadores e procuradores da República, além do próprio ex-ministro Sérgio Moro e da Advocacia-Geral da União (AGU). Segundo o portal de notícias G1, fontes que acompanharam esta exibição informaram que o presidente Jair Bolsonaro aparece falando palavrões e fazendo ameaças de demissão em defesa da troca do comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
Foto de destaque retirada do site AP Photos.