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Governo brasileiro quer autorizar uso da cloroquina no combate à Covid-19

Após pedido de demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde, governo pretende nomear um novo ministro somente após mudança no protocolo para autorizar uso da cloroquina, como quer o presidente Jair Bolsonaro. 

Na última sexta-feira, Nelson Teich surpreendeu a todos quando pediu exoneração do cargo de Ministro da Saúde, com menos de um mês à frente da pasta. Segundo fontes do governo, o ex-ministro não “aguentou a pressão” de Bolsonaro, que insistia em fazer Teich autorizar o uso de cloroquina como medicamento de combate à Covid-19. O cargo de Ministro da Saúde está ocupado interinamente pelo general Pazuello, que já estava na secretaria-executiva da pasta.

Após esse episódio, o Palácio do Planalto afirma que o presidente irá demorar mais tempo, desta vez, para escolher um substituto oficial para o cargo de Nelson Teich. Jair Bolsonaro irá manter o general Pazuello temporariamente à frente do Ministério da Saúde para que não se precipite na nova escolha.

Contudo, fontes auxiliares do presidente revelaram à jornalista Andréia Sadi (Portal G1) que a ideia do governo é que Pazuello assine a mudança no protocolo da cloroquina – autorizando o uso do medicamento, como quer Bolsonaro – antes que um novo ministro seja nomeado oficialmente para o cargo. Isso porque o governo tem sido alertado por especialistas de que nenhum médico de renome irá autorizar esse uso, caso assuma o Ministério da Saúde. 

Bolsonaro segurando uma caixa de hidroxicloroquina em live na noite de 9 de abril, ao lado do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e de uma intérprete de libras. / Imagem retirada do site Gazeta do Povo.
Bolsonaro segurando uma caixa de hidroxicloroquina em live na noite de 9 de abril, ao lado do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e de uma intérprete de libras. / Imagem retirada do site Gazeta do Povo.

Ministros da ala militar – que defendem que o general Pazuello fique como secretário-executivo da pasta – foram procurados por parlamentares que acreditam que a mudança no protocolo sobre a cloroquina é um ato perigoso. Eles afirmam que além de colocar a saúde da população mais ainda em risco, essa decisão também irá fragilizar a imagem das Forças Armadas, uma vez que um general irá assinar uma mudança sem nenhuma base científica que a valide. 

Inúmeras pesquisas em relação à efetividade do uso de cloroquina na recuperação de pacientes infectados pelo novo coronavírus vêm sendo realizadas ao redor do mundo. Nenhuma delas, no entanto, comprovou tal eficácia do medicamento. Na segunda-feira passada, 11 de maio, o resultado de uma das principais pesquisas sobre o uso de hidroxicloroquina foi publicada na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association). 

O estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Albany, em Nova Iorque, não encontrou relação entre o uso do medicamento em questão com a redução da mortalidade do novo coronavírus. 1.438 pacientes infectados pela doença foram analisados em 25 hospitais diferentes do estado. O resultado analisado foi de que a taxa de mortalidade entre os pacientes tratados com hidroxicloroquina foi muito semelhante à taxa dos que não tomaram este medicamento, bem como à taxa dos que tomaram a hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina. 

Ainda neste mesmo estudo, os autores constataram que os pacientes que tomaram a medicação combinada com o antibiótico tiveram duas vezes mais chances de sofrer parada cardíaca. Um dos efeitos colaterais conhecidos da hidroxicloroquina são problemas cardíacos. 

Apesar de esta não ser a pesquisa que encerra o assunto sobre o uso do medicamento, não é a única que constata a inexistência de relação entre os efeitos da hidroxicloroquina com a diminuição da taxa de mortalidade em pacientes infectados pela Covid-19. Muitas outras instituições continuam pesquisando sobre o assunto. 

Mesmo com o todo o trabalho de profissionais especializados na área de saúde, especificamente voltados para a pesquisa sobre o uso da cloroquina, e com muitos opositores dentro do governo, Jair Bolsonaro ainda insiste em mudar o protocolo e autorizar que o medicamento seja usado em pacientes brasileiros infectados pela doença do novo coronavírus. Enquanto isso acontece, auxiliares do presidente continuam a declarar que estão à procura de um médico que “aguente a pressão do cargo”, se referindo à nomeação para Ministro da Saúde. 

Imagem de destaque retirada do portal BR Político