
Covid-19: Itália à beira do colapso
Itália já decide entre quem deve salvar e quem deve morrer. A pandemia avança em larga escala e existem indicações para ajudar na decisão: os mais velhos estão no fim da lista.
Neste momento, a Itália vai lidando com um crescimento exponencial no número de mortos por infeção pelo novo coronavírus. Esta sexta-feira chegou às 4.032 mortes.
Mortos em Itália ultrapassam os da China
Tornou-se o centro da pandemia. A região da Lombardia, localizada a norte do país regista, até ao momento, a situação mais crítica com 2.549 mortes e 22.264 casos. O país, que se mantém em quarentena obrigatória, contabiliza, no total, 3405 mortes no seu território. A média de idades dos mortos é de 80,5 anos, sendo que a dos homens (79,5 anos) é inferior à das mulheres (83,7 anos).
Em entrevista ao Corriere della Sera, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte refere a necessidade de prolongar as medidas previamente tomadas: “Evitámos o colapso do sistema, as medidas restritivas estão a funcionar e é óbvio que, quando atingirmos o pico de contágio, esperamos começar a voltar às nossas vidas normais – mas ainda não. As medidas que tomámos, de fechar lojas e escolas, têm de ser prolongadas”.
Apesar da quarentena obrigatória no país estar decretada até ao dia 3 de abril, as autoridades italianas já passaram multas a mais de 40.000 pessoas que abandonaram as suas habitações por situações não consideradas de primeira necessidade. De forma a limitar a circulação de pessoas, a Ministra dos Transportes, Paola di Micheli assinou um documento que prevê a limitação na circulação de comboios. No mesmo sentido, estão a ser equacionados reajustes nos horários dos supermercados e farmácias.

De momento, o padrão de mortes registado em Itália é bastante semelhante ao verificado na China. São os idosos e com patologias associadas, como cancro, diabetes, doenças respiratórias que estão a ser mais afetados.
Hospitais sem limite de capacidade
São muitos os apelos, fotografias e vídeos que têm circulado nas redes sociais e que têm vindo a denunciar a situação alarmante que se vive no país. Hospitais sem camas, falta de ventiladores e o desgaste dos profissionais de saúde têm sido as causas mais apontadas para o esgotamento do sistema de saúde italiano. A imagem de uma enfermeira desmaiada, após 10 horas de serviço contínuo, correu o mundo.

Cidade de Bérgamo tem um cenário idêntico a um filme de terror
As imagens que chegam de uma das cidades mais afetadas pelo avanço do surto exprimem um cenário aterrador. Na noite de quarta-feira, uma longa procissão de camiões blindados do Exército tirou da cidade setenta caixões que se acumulavam no cemitério local, completamente sobrecarregado pela emergência. Nenhum tipo de cerimônia pôde ser oficializada e não houve tempo para a realização dos funerais. Bérgamo tornou-se a imagem do colapso do sistema de saúde diante da pandemia. O hospital Giovanni XXIII, à imagem daquilo que se vive na cidade, não para de transferir pacientes para clínicas de outras regiões próximas da cidade.

Mensagens de esperança chegam de todos os cantos do mundo
“Andrà Tutto Bene” (“Vai ficar tudo bem” em português) tem sido uma das mensagens mais vista nas varandas e em montras de lojas de várias cidades italianas. Trata-se de uma forma de ocupar o tempo das crianças que, através da sua veia criativa, desenham em folhas, lençóis, cartolinas, autocolantes um pouco por todo o lado.
Fotografia de destaque retirada da revista semanal CartaCapital