Societatis

Covid-19 chega às favelas brasileiras e obriga à organização das comunidades

Países europeus não servem de modelo para as 30 milhões de pessoas que não têm saneamento básico e, por isso, não conseguem seguir a recomendação mais básica para se evitar o contágio pelo novo coronavirus.

O medo instala-se diante da população. Para além de problemas estruturais, como a crise e o desemprego, a situação piora agora com a paralisação das atividades produtivas. Às habitações em estado decadente, esgotos a céu aberto e falta de água canalizada junta-se agora uma nova ameaça.

Para os 11 milhões que vivem em milhares de favelas espalhadas por um território com o dobro do tamanho da União Europeia, é difícil seguir a recomendação sanitária mais simples —lavar as mãos frequentemente. Na maioria das vezes, o álcool em gel é um luxo inalcançável. 

O mais dificil, para já, tem sido convencer os moradores a reduzir o contacto com os outros. As ruas das favelas do Brasil continuam com milhares de pessoas a circular, como se de nada se tratasse. Jair Bolsonaro é um dos rostos que acredita que a Covid-19 se trata de uma simples “gripezinha”. Desta forma, continua a incentivar a população a retomar a sua atividade profissional, contrariando a opinião do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que alerta que enquanto não houver vacina nem um número suficiente de ventiladores e máscaras, o mais eficaz é ficar em casa.

Gilson Rodrigues, líder comunitário da favela de Paraisópolis considera que a população ainda não acredita verdadeiramente nos perigos da pandemia. “Paraisópolis vive neste momento uma tentativa de se organizar para combater o novo coronavírus, mas, no geral, a população ainda percebe a situação com descrédito”, disse. “É como se [o vírus] fosse uma coisa da televisão, que não vai chegar aqui, uma coisa dos ricos, por isto as ruas continuam lotadas e as pessoas ainda não tem consciência do que está por vir”.

Paraisópolis, Brasil
Fotografia retirado do El País

Na maior favela de São Paulo, em Heliópolis, vivem cerca de 200 mil pessoas. Sem apoio direto do poder público, são os moradores que estão a promover acções para recolher doações, distribuir comida, produtos de higiene e informar a população. Nesta comunidade, a movimentação das pessoas parece mais reduzida, mas muitos permanecem nas ruas e com comércios abertos para tentar sobreviver.

O país já ultrapassou o número de 500 vitimas mortais, enquanto que o número de infetados se aproxima dos 12.000.

Fotografia de destaque retirada do O Globo

João Costa e Silva
Estudante da licenciatura em Jornalismo e Comunicação.